segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Somewhere over the rain

Porque amo a chuva? Porque me faz falta.
Sou a planta que no solo ressequido anseia as gotas. Sou o sol que tímido espera as nuvens para se esconder.
Quando a chuva me bate no rosto, não bate, beija-me como uma benção chorada dos céus.
Nasci no campo.
Nas tardes de Outono, punha-me à janela da pequena sala por detrás do arco e deliciava-me a ver o verde das encostas receber a incessante chuva. Quando começava a chover, passavam dias até que parásse. O som da natureza nessas tardes acompanha-me ainda. Aquele doce chicotear dos campos, aquele cativante pingar dos beirados, o sacudir dos cachorros e o seu suspirar, deitados no alpendre.
A chuva fazia parar as gentes. No campo ainda se respeitam os prazos da natureza. As cidades são hipócritas e decadentes. Fazem-nos sentir senhores do mundo e, talvez por isso, já não paremos para olhar a chuva, já não sintamos a sua falta. Chover tornou-se um contratempo, uma demora no dia que passamos, que temos que passar, a correr.
O tempo já não é o que era, vaticinam os velhos do jardim nos seus bancos de ripas vermelhas aos que passam apressados. A eles, a chuva não incomoda, já não têm onde ir, limitam-se a esperar, a ver, a admirar o que os envolve, a recordar quando eles próprios corriam.
Todos temos, um dia, que parar para ver.
Todos temos que sentir a chuva, deixá-la escorrer pelos braços, pelo rosto, ensopar suavemente a roupa, colando-a ao corpo.
Todos temos que chegar a casa, metermo-nos debaixo de água quente, e sentir o comforto que isso dá.
Todos temos que sentir a falta para depois dar valor.

Eu sinto falta da chuva.

3 comentários:

Anna disse...

Fecho os olhos e oiço lá fora os pingos a bater timidamente à janela... O temporal passou entretanto... restam estes pequenos persistentes que me acompanham agora, no silêncio da noite...

Leio estas palavras e recuo também com a imaginação... para os dias em que havia ainda uma vinha do outro lado do caminho, que conseguia vislumbrar pela janela da sala... Desviava o cortinado e ficava a olhar para as videiras a serem beijadas pelas gotas... perdia-me... sem pensar em nada... até que o vidro embaciava e turvava a vista... Então sorria, limpava o vidro com a mão depois, claro, de ter escrito nele o meu nome naquela folha de papel de água, e continuava a observar o descer da chuva, sem regras nem coreografias... Nesses dias, inocente, ficava apenas amuada por não poder ir para a rua brincar... Quem me dera que ainda assim fosse, tudo tão simples...

Continuo a amar a chuva como a amava inocentemente naqueles dias, mas agora quero senti-la na pele, deixar que ela me lave todas as preocupações e que me turve o vidro que me separa da realidade, para que nele possa escrever com os dedos o meu destino...

*

Lia disse...

tenho saudades de sentir a chuva numa tarde de outono, qd não está muito frio e sabe bem sentir as pingas no rosto...

Smurf disse...

Foram vocês que pediram a chuva!!! :))) Também adoro estar em casa, e ouvir a chuva lá fora. -Gosto muito dos dias de verdadeiro "aboboranço" que a chiva me consegue proporcionar. Mas apesar de gostar muito destes dias, sou sem dúvida uma amante do sol e dos dias quentes e bonitos.