domingo, 8 de novembro de 2009

Das memórias

O teu corpo está em todos os corpos que toco.
Nesta chávena de café tomada na varanda sobre imenso azul, observo o aroma a fazer desenhos imperceptíveis no ar. Fixo o olhar longe, distante como aquilo que desejo.
Ainda te trago nos lábios e em todas as palavras que, atabalhoadamente, solto sempre que tento meter conversa com alguém.
Ainda és tu que te transformas em almofada na minha cama, noite após noite e velas pelo meu sono.
As flores têm a tua forma. Desabrocham como tu acordavas, quando os primeiros raios de sol se escapavam pelas frestas da persiana semi cerrada.
O teu bom dia está em todos os bons dias que ouço.
Ainda te busco, ainda te espero.
Olho a planta que comprámos naquele mercado de fim de Verão. Está grande e viçosa. O verde nunca foi tão verde e em breve precisará de ser mudada.
As mãos tremem-me de te recordar.
Esqueço o mar azul ao longe, baixo os olhos e, cabisbaixo, entro na sala.
Tudo tem a tua forma.
Enlouqueço a cada dia que passa sem te ter para além da memória.
Somos o rabisco que deixamos em forma de recordação naqueles que se cruzaram connosco nesta vida.
Tu deixas um compêndio em mim. Eu, uma linha, um texto, um conto por terminar em ti.
Na areia da praia que é a nossa vida, serei um castelo, uma rocha, uma concha vazia, ou apenas um grão que vai e vêm, revolto nas ondas, conforme a maré?
Nas sombras de fim de tarde, na espera da noite, no ocaso do acaso, pergunto-me, o que mais seria, se não fosse como sou?

6 comentários:

DoceSussurro disse...

Triste e lindo :)
Senti...
Um final dói tanto!

Beijinho*

Anna disse...

É a memória daquilo por que vivemos que marca as linhas do nosso semblante e da nossa personalidade...

Lembrar dói, mas também faz sorrir, faz querer contar, partilhar, faz querer escrever... A memória têm um carácter muito semelhante ao da própria vida, se pensarmos bem...
*

Anuska disse...

Fica sempre o vazio, a saudade do que se fez e do que ficou por fazer.

Smurf disse...

Tão linndo.... gostei muito de ler e de sentir! :)

CF disse...

:)
O Amor é isso mesmo. Bom demais para esquecer. Intenso o suficiente, para o querermos fazer, sem conseguir.

Cereja disse...

Adoro a tua escrita.
Continua!

Beijinho*